Eu gosto muito de ler. Livros são importantes para mim não só pelo que aprendo com eles mas também pelos objetos que são. Há livros que são verdadeiras obras de arte. E como designer e fotógrafa aprecio livros com um belo design.
De repente olhando para os livros que tenho lido nos últimos anos, reparei que só estava lendo livros relacionados ao meu trabalho, alguns bastante técnicos, outros de leitura mais livre, mas sempre conectados com o trabalho.
E isso estava me cansando. Queria voltar a ter uma relação mais emocional com as minhas opções de leitura. Lembro de ter lido livros que não queria que acabassem, de ter economizado capítulos para continuar lendo no dia seguinte.Tão bom…
Entrei numa livraria decidida a comprar o que me indicassem. Olhei à volta à procura de uma vendedora a quem perguntar. Escolhi duas moças que estavam arrumando alguns livros e disse:
”Boa tarde…
poderia me dar uma ajuda? Entrei aqui decidida a comprar um livro novo que não seja técnico ou que tenha a ver com o meu trabalho. Ando à procura de algo que seja feminino, leve, bonito… daquelas leituras que a gente se sente bem, sabe como é? Pode me ajudar?”
Ao que a vendedora respondeu prontamente:
”Acho que sei o que você quer, venha comigo.”
E assim o fiz.
Ela me indicou o livro “Tudo é Rio” da escritora brasileira Carla Madeira.
Não conhecia o livro, tampouco a escritora que estava sendo aclamada como “a autora mais lida no Brasil”. Fiquei curiosa. Cheguei a pensar que o “Rio” fosse o Rio de Janeiro, minha cidade natal. Mas não. Era outro rio…
Voltei pra casa com aquela excitação quase infantil de quem tem um brinquedo novo e está indo pra casa brincar com ele pela primeira vez, explorar todas as possibilidades e viajar na imaginação.
No mesmo dia comecei a ler.
Sem querer dar um spoiler posso dizer que o início da leitura me deu um pouco de impaciência, como se o enredo se tratasse sempre da mesma coisa. Me vi um pouco andando aos círculos na leitura. Mas não desisti. Tinha que dar uma chance para o livro. Mas lá pelo meio do livro a descrição de uma cena me roubou completamente a vontade de continuar a ler.
Fiquei tão triste…
Puxa, afinal eu entrei naquela livraria disposta a ler qualquer livro que me indicassem que fosse feminino, leve e bonito. Tudo o que o livro tinha deixado de ser.
Refleti sobre mim, sobre os meus gostos, sobre a minha sensibilidade. E não cheguei a conclusão nenhuma. Mas uma coisa aconteceu, deixei o livro de lado. Toda aquela excitação que eu tive transformou-se numa imensa falta de paciência e tolerância com o livro.
Pausa de uns três meses…
O tempo tá passando e já há Poinsettias sendo vendidas no mercado, indicando a proximidade do Natal.
Dizem que o meu ascendente em Touro me confere algumas características ligadas à persistência, que em alguns casos pode ser confundida com teimosia mesmo. E o livro esteve sempre ali, ao alcance do meu olhar a espera de regressar para a minha rotina. Eu não desisti. Voltei a ler.
Tive que regressar alguns capítulos para relembrar dos personagens e seus enquadramentos para retomar a história de onde eu tinha parado. E para minha surpresa, não só a minha disposição foi outra, como a minha interpretação mudou e eu estou adorando o livro. Gosto tanto que até sublinho partes, marco outras, coisa que não estava definitivamente acontecendo.
E um dos trechos que marquei vale muito a pena a partilha neste texto. Fala sobre o amor e diz assim:
…“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca se vão conhecer.
Nasceram num lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem.
Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores. Por afinidade, por atração que não se explica, por força das circunstâncias, por químicas ocultas, quem pode saber? Quanto amor se perde nessa falta de sincronia. Não é preciso ir longe, alguém pode passar pela esquerda enquanto olhamos distraídos para a direita. Por um triz o paralelo obriga-nos ao desencontro eterno.
E preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.” …
Tão bonito e tão real… que texto sobre encontros!
Me fez lembrar os meus encontros e pensar em quantos não foram os desencontros. E que a vida é assim mesmo, não há nada a fazer.
E houve outras passagens bonitas como essa. Fui marcando, sublinhando…
O fato é que eu só pude me encontrar com este texto porque algo em mim mudou. Algo se transformou para que eu passasse a ter outra disposição. E isso é simplesmente fascinante em nossa vida.
A moral da história e razão principal pela qual resolvi escrever este texto hoje para a newsletter é sobre a capacidade que devemos nutrir na nossa vida de aceitar que tudo se transforma. É a natureza da vida. De tempos em tempos tenho a necessidade de voltar a me lembrar disso e posicionar as minhas questões, os meus problemas em outras prateleiras.
Que este texto contribua para a sua reflexão também.
para se inspirar
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Adoro as suas reflexões, amiga. Adorei o texto!